Terminamos a última reflexão falando no prazer de rezar bem. A inspiração de hoje vem de um poema da chilena Gabriela Mistral*, prêmio Nobel de literatura em 1945, que trata de muitos prazeres que nos aproximam de Deus, apesar de não falar de rezar:
O prazer de servir - Toda natureza é um anelo de “serviço”. Serve a nuvem, serve o vento, serve a chuva.
Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu; onde houver uma tarefa que todos recusam, aceita-a tu.
Sê quem tira a pedra do caminho, o ódio dos corações e as dificuldades dos problemas.
Há a alegria de ser sincero e de ser justo; há, porém, mais do que isto, a formosa, a imensa alegria de servir.
Como seria triste o mundo se tudo já estivesse feito, se não houvesse uma roseira para plantar, uma iniciativa para tomar!
Não te seduzam as obras fáceis.
É belo fazer tudo o que os outros se recusam a executar.
Não cometas, porém, o erro de pensar que só tem merecimento executar as grandes obras; há pequenos préstimos que são bons serviços: enfeitar uma mesa, arrumar uns livros, pentear uma criança.
Aquele é quem critica, este é quem destrói.
Sê tu quem serve. O servir não é próprio dos seres inferiores.
Deus, que nos dá o fruto e a luz, serve. Poderia chamar-se O SERVIDOR. E tem os olhos fixos em nossas mãos e nos pergunta todos os dias: serviste hoje? A quem? À árvore, ao teu amigo, a tua mãe?
O prazer que sentimos ao fazer uma boa ação é a primeira consequência da oração desinteressada ou do serviço gratuito em favor de quem precisa, porque o amor verdadeiro produz alegria.
Quem reza não fica triste, apesar das dores do dia a dia. Tem sempre em mente a consolação de estar com Deus. Não porque a oração nos livra de problemas e sofrimento, mas porque a espiritualidade nos faz dar um sentido para isso. O sofrimento é próprio da condição humana e aceitá-lo ou enfrentá-lo nos faz crescer e amadurecer.
Quantas vezes caímos e esfolamos os joelhos, quando éramos pequenos, por quanta dor de dentes passamos, mas não deixamos de gostar de andar de bicicleta, nem desejamos ficar desdentados. Depois que isso passa, esquecemos e nos sentimos mais fortes. As dores vão mudando conforme a idade e um sinal de maturidade é aceitar as formas diferentes de senti-las.
As mães que optam por ter filhos de parto natural sofrem dores por certo tempo, até que o bebê nasce e é colocado ao seu lado. Ter o filhinho ao seu lado faz esquecer toda a dor sentida. Se não fosse assim, as mulheres só teriam um filho, pensando na dor que iam sentir.
A experiência diante do sofrimento físico é condição natural, sempre encontraremos uma pessoa que nos console, desde o beijinho da mamãe, quando cura o machucado da criança, até o conforto que podemos proporcionar com uma conversa ou um copo d’água servido a um doente terminal. O sofrimento do próximo sempre nos oferece a oportunidade de servir.
*Gabriela Mistral (1889 – 1957), pseudônimo de Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, foi uma poetisa, educadora e diplomata chilena, agraciada com o Nobel de Literatura de 1945.