quinta, 19 setembro 2024

Cultura

08/08/2023 09:34

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CONTOS por João Victor Brandão - "IRA"

Samurais. Quando o nome vem à cabeça pensa-se em guerreiros nobres que prezavam pela honra e a proteção de seu senhor e dos fracos...

Atualizado: 08/08/2023 10:18

João Vitor Brandão

IRA

“Samurais. Quando o nome vem à cabeça pensa-se em guerreiros nobres que prezavam pela honra e a proteção de seu senhor e dos fracos e quanto aos protetores da honra e dos fracos e oprimidos não passa de  superstição, lendas ou alguns casos isolados. A pura verdade é que samurais  estão para os japoneses o que os pistoleiros estão para os americanos.

No Japão antigo, era bem comum um samurai matar alguém em plena vista simplesmente porque não foi com a cara dela. E o que se podiam fazer? Eles eram guerreiros incrivelmente habilidosos e principalmente tinha a proteção do exército ou do senhor da região. Para um mero camponês obter retribuição desses atos de violência só mesmo com intervenção divina, ou demoníaca.”

No período feudal do Japão, um grupo de samurais retorna ao seu castelo após uma noite de jogatina e bebidas. Obviamente os ânimos de todos ainda estão altos com toda a diversão que tiveram a ponto de rirem e conversarem alto sem ligarem para nada ou ninguém. Dessa forma, o líder força uma aposta de corrida de cavalos entre seus companheiros até o castelo.


Devido a dianteira, o líder está para ganhar a corrida até perceber um jovem atravessando a rua, obrigando a uma parada forçada do samurai que chega a cair do cavalo e causando algumas risadas por parte de seus colegas que vieram atrás enquanto o rapaz vai ao socorro do guerreiro caído para ajudálo.

Apesar do semblante gentil do rapaz, o samurai responde com ódio em seus olhos, ódio que exige satisfação por sangue. Dando um exemplo perverso de suas habilidades, o samurai saca sua espada, fazendo um corte tão preciso no pescoço do rapaz que sua cabeça cai em instantes. Para aqueles na rua, a cena é vista com um espanto silencioso que é substituído pela risada do grupo e do próprio assassino que voltam ao seu caminho deixando o corpo decapitado ali mesmo. No dia seguinte, o corpo do garoto está numa carroça com outros corpos indigentes para ser descartado na primeira vala ou penhasco diante. Porém, quando seu corpo estava para ser arremessado pelos responsáveis pelo descarte, suas ações são paradas pela visão de um samurai de armadura negra que lhe cobre o corpo enquanto seu rosto é coberto por uma máscara de batalha em forma de crânio, crânio de bode. Além de uma capa em suas costas, ele cavalga um sinistro cavalo negro.

A mera visão do samurai sombrio faz com que os responsáveis pelo descarte saiam correndo por suas vidas, algo que é completamente ignorado enquanto o samurai desce do cavalo ao mesmo tempo que ajuda uma mulher que estava em sua garupa a descer. Então, eles vão em direção a carroça, mas somente um tem coragem de se aproximar e vasculhar os
cadáveres pelo que busca. Não demora muito para o samurai sombrio tirar o cadáver do rapaz que para o horror da mulher que é sua mãe, se põe a se ajoelhar de tristeza e
choros enquanto o sombrio guerreiro tira sua capa para cobrir e enrolá-la no corpo do jovem.

Algum tempo depois, numa humilde casa afastada da vila, ocorre um pequeno funeral feito pela mãe e seu misterioso amigo, fora alguns conhecidos. Então, com a mão colocada no ombro da mãe, o samurai sombrio diz: -Não posso lhe dar a paz, mas posso lhe dar a vingança, se assim desejar. A mãe não responde enquanto reflete a decisão imposta a ela. Ao anoitecer no castelo do assassino do jovem rapaz, o líder samurai retorna sozinho ao  seu castelo para então se deparar com o horror de ver seu castelo destruído e seus homens mortos e espalhados pelo terreno. Onde o samurai sombrio  o espera sentado pacientemente por sua chegada. Vendo o responsável pela destruição de sua vida, o líder samurai é tomado pela raiva enquanto saca sua espada e caminha em direção ao seu adversário que continua sentado e emocionalmente frio com a situação a ponto de perguntar com uma voz calma e fria:  

-Você me odeia?

-Que tipo de pergunta idiota é essa?! Claro que te odeio!

Próximo o bastante, o samurai ataca seu oponente que nem armado ou em posição de combate está para se defender, porém, num movimento tão rápido quanto um piscar de olhos, o sombrio defende o golpe com sua espada ainda na bainha. Além de rápido, o movimento veio carregado de uma força que chegou a rachar a espada do samurai que quase perde o
equilíbrio enquanto ouve do seu misterioso adversário:  -Você também odiava o garoto que matou ontem? O que lhe estendeu a mão para lhe ajudar mesmo depois de quase atropelá-lo com seu cavalo?

-O que você tem a ver com isso?!

O sombrio não responde à pergunta, apenas se levanta ainda bloqueando a espada do adversário com extrema facilidade enquanto questiona:

-Por que odiava o rapaz?

-Por quê?! 

 As dúvidas do samurai só não são maiores que sua indignação com a pergunta, que o faz dizer ao sombrio: -Porque ele entrou no meu caminho. Como você!

Mais uma vez, o samurai tenta outra ataque e mais uma vez, o sombrio defende, mas dessa vez, sua defesa quebra a lâmina do adversário e o derruba completamente no chão. Com medo, o samurai se arrasta pelo chão tentando chegar a um acordo com o sombrio com suas palavras: -Eu não sei quanto estão te pagando, mas posso pagar o dobro... Não, o
triplo..As palavras se prendem na garganta do caído com o medo que o semblante e os olhos vermelhos demoníacos que surgem da máscara do samurai sombrio que tira lentamente sua espada da bainha dizendo as seguintes palavras:  -Fora alguns poucos amigos e um professor muito zeloso, o garoto tinha uma mãe. Uma mãe que apesar do que fez, não o odiava o bastante para me pedir a satisfação de matá-lo em vingança. -Então...

-É meu trabalho punir aqueles que matam pela ira.  Conforme sua espada fica visível, os olhos do samurai sombrio brilham um  vermelho vivo enquanto a escuridão cerca ele e sua vítima a ponto de escurecer até a luz do luar.
Fim.

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