O anúncio da não renovação do acordo entre Rússia e Ucrânia, que permitia a exportação de grãos pelo Mar Negro, pode ter um impacto significativo nos preços globais dos alimentos. A Ucrânia é um dos principais exportadores mundiais de girassol, milho, trigo e cevada, e os preços desses produtos já apresentaram aumento após o fim do acordo.
O pacto permitia que navios de carga ucranianos atravessassem o Mar Negro a partir dos portos de Odesa, Chornomorsk e Yuzhny/Pivdennyi, o que possibilitava o envio de mais de 32 milhões de toneladas de alimentos ucranianos aos mercados internacionais. Agora, a Ucrânia precisará encontrar rotas alternativas para suas exportações. O fim do acordo também traz o risco de escassez de alimentos em países africanos e do Oriente Médio, que dependem da importação de grãos ucranianos.
Shashwat Saraf, diretor regional de emergência para a África Oriental no IRC, ressaltou a importância de uma extensão de longo prazo do acordo para fornecer estabilidade à região, que enfrenta perdas significativas de colheitas devido à seca e inundações.
O Kremlin confirmou o término do acordo, mencionando o descumprimento de algumas cláusulas por parte da Ucrânia. O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que os grãos ucranianos não foram fornecidos aos países mais pobres, conforme estabelecido no pacto. Além disso, a Rússia alega que as sanções ocidentais estão limitando suas próprias exportações agrícolas.
A União Europeia propõe distribuir os grãos ucranianos que não podem ser exportados pelo Mar Negro, utilizando rotas terrestres para a Polônia e, em seguida, transportando-os por via marítima até o Mar Báltico ou pelo trem e barcaça até o porto romeno de Constanta. No entanto, essas rotas apresentam desafios logísticos e podem resultar em engarrafamentos.
As exportações de alimentos da Ucrânia abasteciam diversos países, incluindo na Europa, Ásia e África. No último ano, aproximadamente 47% foram destinados a países de alta renda, como Espanha, Itália e Holanda, 26% a países de renda média-alta, como Turquia e China, e 27% a países de renda baixa e média-baixa, como Egito, Quênia e Sudão.
A ONU destaca que a Ucrânia enviou cerca de 625.000 toneladas de alimentos como ajuda humanitária para países como Afeganistão, Etiópia, Quênia, Somália, Sudão e Iêmen. O fim do acordo pode afetar negativamente esses programas de assistência alimentar.