Economia

Exportações brasileiras para a Argentina caem 30% devido a crise econômica no país vizinho

Além da soja, outros setores industriais brasileiros também foram impactados.

27 MAI 2024 • POR Redação • 07h00
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As exportações de produtos brasileiros para a Argentina sofreram uma queda significativa de 29,9% entre janeiro e abril de 2024, totalizando US$ 3,91 bilhões (R$ 20,1 bilhões). Esse declínio é resultado de ajustes econômicos implementados no país vizinho, que têm afetado drasticamente o comércio bilateral.

A Argentina, que é o terceiro maior comprador de produtos brasileiros, está cada vez mais próxima de ser ultrapassada pela Holanda, que importou US$ 3,5 bilhões (R$ 18 bilhões) no mesmo período. Os dados foram fornecidos pelo Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Um dos fatores que contribuíram para essa queda foi a normalização da produção de soja na Argentina em 2024. No ano anterior, uma seca severa aumentou a demanda argentina por soja brasileira, impulsionando temporariamente as exportações. Este ano, com uma colheita robusta, a necessidade de importar soja diminuiu, representando 28% da redução total nas exportações brasileiras para o país.

Além da soja, outros setores industriais brasileiros também foram impactados. As vendas de partes e acessórios de veículos automotivos caíram 25%, automóveis de passageiros diminuíram 22,1%, papel e cartão tiveram uma queda de 33,6%, e motores de pistão recuaram 23,9%.

A desvalorização de 54% do peso argentino no início do ano e as medidas de ajuste econômico para conter a inflação e assegurar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) encareceram as importações, tornando o mercado argentino instável e adiando decisões de compra.

A concorrência chinesa e o aumento das barreiras comerciais nos Estados Unidos também têm dificultado a situação para os exportadores brasileiros. Representantes do setor de comércio exterior afirmam que 2024 será um ano difícil para as vendas brasileiras à Argentina.

O setor calçadista é um exemplo da queda nas exportações. De janeiro a abril, a Argentina comprou 3 milhões de pares de calçados brasileiros, totalizando US$ 62 milhões (R$ 318,9 milhões), uma redução de 39,2% em volume e de 24,9% em receita. O cenário de recuperação no curto prazo é pouco provável devido a problemas estruturais no mercado argentino.

A indústria de máquinas e equipamentos registrou uma queda ainda mais acentuada, com uma redução de quase 50% nas vendas para a Argentina no primeiro trimestre de 2024. Dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec) mostram que as importações totais da Argentina diminuíram 23,8% nos primeiros quatro meses do ano, com quedas em bens de capital (15,5%), bens intermediários (21,5%) e combustíveis e lubrificantes (65%).

A indústria argentina também sente os efeitos dos ajustes econômicos. Em março, o segmento manufatureiro registrou uma queda de 21,2% em comparação ao mesmo mês do ano anterior. Setores como móveis e colchões (-40,4%), máquinas e equipamentos (-37,9%) e produtos minerais e metálicos (-35,8%) sofreram perdas significativas.

Apesar da desaceleração da inflação em abril, que registrou 8,8% no mês, o impacto das reformas econômicas sobre a economia e o emprego na Argentina tem sido severo. A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a economia argentina em 2024 é de uma queda de 2,8% no PIB, reflexo da crise interna, desemprego e baixo poder aquisitivo.