Polícia

PF investiga ligações entre facção criminosa do RJ e clube de tiro em Campo Grande

Clube de tiro Golden Boar em Campo Grande teria usado moradores de baixa renda como laranjas para aquisição de armas pesadas

5 JUL 2024 • POR Redação • 08h00
Reprodução

A Polícia Federal está investigando um esquema de compra de armas envolvendo o Terceiro Comando Puro (TCP), uma facção criminosa do Rio de Janeiro, e um clube de tiro em Campo Grande (MS). O esquema utiliza moradores de áreas periféricas da cidade como laranjas para adquirir armamentos pesados, valendo-se de registros de caçadores, atiradores e colecionadores (CACs).

Entre os principais envolvidos está Kessiene Vieira Pinheiro, residente no Jardim Canguru, que adquiriu um arsenal avaliado em R$ 118 mil, incluindo quatro fuzis calibre 7,62 mm e quatro pistolas 9 mm, apesar de enfrentar dificuldades para pagar contas básicas, como a de energia elétrica. As armas foram compradas com a intermediação do Clube de Caça e Tiro Golden Boar, que possui unidades em Campo Grande e Maracaju.

O clube de tiro Golden Boar é conhecido por sua proximidade com políticos e artistas. Frequentadores notáveis incluem os deputados federais Marcos Pollon (PL-MS) e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), além de artistas do sertanejo universitário, como Jads, da dupla Jads e Jadson, e Munhoz, da dupla Munhoz e Mariano. Rodrigo Donovan de Andrade, operador do clube, tem um histórico de acusações de roubo a agências bancárias e, junto com sua esposa Ellen de Lima Souza Andrade, exibiu fotos ao lado dos políticos em redes sociais.

Documentos obtidos pela Polícia Federal revelam uma complexa rede de movimentações financeiras e transferências de armas, muitas destinadas a mulheres de presidiários e à irmã de Rodrigo, Mirella Andrade. A falta de controle sobre as atividades de CAC pelo Exército permitiu que armas fossem transferidas entre indivíduos, dificultando o rastreamento.

A investigação também revelou que Kessiene, que se declarou empresária para obter o registro de CAC, nunca comprou munições, sugerindo que seu papel no esquema era apenas de fachada. A Operação Oplá, deflagrada em duas fases em 2022, resultou na apreensão de armas e munições ligadas ao clube de tiro. Narciso Chamorro, encontrado com armamentos e coletes balísticos, alegou ser funcionário do Golden Boar, uma afirmação negada pelo clube.

O deputado federal Marcos Pollon não respondeu aos pedidos de comentário sobre o caso. Pollon é presidente do Movimento Pro Armas e integra a Bancada da Bala no Congresso Nacional. O clube de tiro afirmou confiar na justiça para esclarecer as acusações. A Justiça Federal decidiu que o caso será julgado pela Justiça Estadual, uma vez que não há evidências de transnacionalidade nos crimes investigados. A investigação da Polícia Federal continua, buscando desmantelar a rede que facilita a entrada de armas em organizações criminosas. ( Com inf Correio do Estado)