Rural

Preços do leite em queda: impactos na economia e no consumo

Redução de 35,82% nos preços do leite ao produtor em julho surpreende durante a entressafra, refletindo em alívio nos preços da cesta básica e contribuindo para a diminuição da pressão inflacionária.

25 AGO 2023 • POR Redação • 07h00
Reprodução

O preço do leite ao produtor registrou uma redução de 35,82% no mês de julho em comparação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com um levantamento realizado pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz)/USP (Universidade de São Paulo).

Essa diminuição nos valores do leite tem tido um impacto positivo na cesta básica, aliviando o bolso do consumidor e reduzindo a pressão sobre a inflação. Essa tendência de queda vai contra o padrão observado nos meses de abril a setembro, que geralmente são marcados pela entressafra do produto, causada pela seca e pela queda na qualidade das pastagens. No entanto, este ano, a redução no preço do litro de leite no campo ocorreu desde maio e espera-se que continue em agosto, segundo aponta o Cepea.

O leite foi um dos cinco alimentos que apresentaram redução de preço em julho, de acordo com a pesquisa mensal da cesta básica feita pelo Procon-SP em colaboração com o Dieese. Houve uma queda de 5,27% no preço do leite, seguida por outros produtos como batata (-11,13%), feijão-carioca (-9,81%), salsicha (-7,13%) e frango resfriado inteiro (-6,71%). A inflação do produto, medida pelo IBGE, indicou uma redução de 23,99% nos últimos 12 meses até julho de 2023, com uma diminuição de 1,86% somente no último mês. Em julho de 2022, o leite havia apresentado um aumento de 25,46%. No ano passado, a alta acumulada do leite foi de 26,18%.

Natália Grigol, pesquisadora de leite do Cepea, explicou que há uma série de fatores contribuindo para a queda nos preços do leite no campo, refletindo-se nos supermercados. Ela observa que os preços de 2023 apresentaram um comportamento atípico, com aumento durante a safra e queda na entressafra, algo que contrasta com os últimos dois anos.

Grigol destacou que até abril deste ano, os preços do leite estavam em alta devido à oferta limitada dentro do país. A competição por fornecedores entre as indústrias de laticínios estimulou os preços. No entanto, a partir de abril, a compra de leite do exterior e a queda nos custos de insumos devido ao dólar mais barato resultaram em uma ampliação da oferta no país, o que levou a preços menores no campo e, consequentemente, nos supermercados.

Ela apontou que nos últimos dois anos, diversos fatores pressionaram os preços, incluindo problemas na política externa brasileira que impactaram o dólar e os insumos agrícolas, além de eventos como a pandemia de Covid-19, mudanças climáticas e a Guerra da Ucrânia, que elevaram os custos com energia e combustíveis.

Nos últimos anos, muitos produtores deixaram o setor, enquanto aqueles que conseguiram investir em tecnologia tiveram resultados positivos. Produtores como o grupo Xandô, especializado em leites tipo A e A2, aumentaram seus investimentos em tecnologia para melhorar a produção.

O leite é um dos produtos mais relevantes na agropecuária brasileira, desempenhando um papel significativo na geração de emprego e renda. Além disso, o produto é valorizado pelo seu alto teor de cálcio, proteínas e vitaminas. O Brasil possui o segundo maior rebanho leiteiro do mundo, com mais de 70 milhões de animais e uma produção anual de mais de 35 bilhões de litros. O setor do leite contribui com cerca de 40% dos empregos no meio rural.

Recentemente, o governo federal anunciou a compra de leite em pó no valor de R$ 200 milhões, como parte das ações para reduzir o estoque de alimentos produzidos pela agricultura familiar e combater a insegurança alimentar. O leite adquirido será destinado a pessoas em condições de vulnerabilidade. Além disso, houve a revogação da redução de impostos de importação sobre produtos lácteos, como parte das medidas de incentivo.