Agro

Brasil supera os EUA e se torna o maior exportador global de milho

Mudanças na agropecuária e relações internacionais redefinem o mercado de grãos

1 SET 2023 • POR Redação • 10h33
Reprodução

Por mais de meio século, os produtores rurais americanos mantiveram sua posição como líderes no mercado internacional de milho, um recurso essencial para a alimentação de rebanhos e a fabricação de alimentos processados em todo o mundo. No entanto, uma reviravolta notável ocorreu no encerramento do ano-safra, marcando a transferência do título de principal exportador de milho dos Estados Unidos para o Brasil, uma posição que pode se manter por um bom tempo.

De acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA, no ano-safra recentemente encerrado, os EUA representaram aproximadamente 23% das exportações globais de milho, enquanto o Brasil respondeu por quase 32%. O país sul-americano está posicionado para manter essa liderança no próximo ano-safra que se inicia em setembro.

O setor agropecuário desempenhou um papel fundamental na economia brasileira recentemente, com um aumento notável de 21% no primeiro trimestre deste ano, um recorde histórico. Embora tenha havido uma ligeira queda de 0,9% nos três meses até julho, conforme dados do IBGE, essa mudança sinaliza uma revolução no mercado global de grãos.

Os Estados Unidos haviam cedido a primeira posição apenas uma vez desde os anos 1960, ocorrendo em 2013 devido a uma seca devastadora. Naquele mesmo ano, o Brasil conquistou a liderança nas exportações globais de soja, solidificando sua presença no mercado internacional de commodities agrícolas.

Vários fatores nos EUA contribuíram para a perda de posição, incluindo custos crescentes, escassez de terras agrícolas, os efeitos duradouros da guerra comercial com a China durante o governo do ex-presidente Donald Trump e um dólar forte, que prejudica a competitividade das exportações.

Essa mudança representa uma transformação notável para os Estados Unidos, que há muito tempo se orgulham de seus "campos de grãos dourados". No auge, os EUA exportavam 78% de sua produção anual de trigo, 54% de sua soja e 45% de seu milho. As projeções para 2024 indicam que esses números devem cair para 40%, 43% e 14%, respectivamente. Essa tendência reflete uma participação menor dos Estados Unidos nas exportações globais de produtos agrícolas em geral.

No caso específico do milho, cerca de 40% da produção americana é destinada a usinas de etanol, uma demanda que está sob ameaça com a crescente adoção de veículos elétricos.

Enquanto isso, o Brasil investiu na melhoria de sua infraestrutura portuária e logística e, com seu clima favorável, realiza duas colheitas de milho por ano. Além disso, o país se beneficia de relações comerciais favoráveis com a China.

No ano passado, a China assinou um acordo de compra de grãos brasileiros, buscando reduzir sua dependência dos EUA e compensar a interrupção do fornecimento da Ucrânia devido à invasão russa. O primeiro embarque de milho do Brasil sob esse novo acordo partiu em novembro de 2022. Em julho deste ano, a China já se tornou o principal destino dos embarques de milho do Brasil, adquirindo 902 mil toneladas.

Essa interdependência entre o Brasil e a China também se reflete em investimentos conjuntos em infraestrutura e tecnologia, fortalecendo ainda mais os laços entre os dois países, ambos membros fundadores do BRICS.

No entanto, especialistas apontam que a melhoria das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a China a curto prazo parece improvável, o que pode deixar a agricultura americana em desvantagem no cenário global, conforme observa Even Pay, analista agrícola da Trivium China, uma consultoria política sediada em Pequim.