O Centro-Oeste brasileiro, especificamente Mato Grosso do Sul (MS), enfrenta um cenário desafiador na atual safra de soja, com produtores preocupados com o atraso no plantio e a possibilidade de desistência do milho safrinha. A seca prolongada tem impactado diretamente o cronograma agrícola, gerando reflexos na produção de grãos.
Relatos de agricultores indicam que o plantio da soja está atrasado em cerca de 30 dias em comparação com a safra anterior. Alguns, inclusive, consideram abandonar o cultivo do milho safrinha diante das incertezas na janela de plantio. A falta de chuvas regulares tem comprometido não apenas o desenvolvimento das lavouras já semeadas, mas também a viabilidade do plantio de milho.
O mais recente Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que Mato Grosso do Sul enfrenta uma possível redução de 7,4% na safra de grãos 2023/2024. Os principais obstáculos para os agricultores do estado são a escassez de chuvas e as temperaturas elevadas.
De acordo com dados do Sistema de Informações Geográficas do Agronegócio (Siga-MS), até o início deste mês, a área plantada na safra de soja 2023/2024 atingiu 62%, uma queda de 5,4 pontos percentuais em comparação com a safra anterior. A região sul se destaca com um plantio mais avançado, registrando uma média de 64,9%, enquanto a região central e norte apresentam percentuais de 58,3% e 54%, respectivamente, com uma média geral de 2,644 milhões de hectares plantados.
O presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), André Dobashi, atribui o cenário ao atraso no plantio na região norte. Comparando com o ano anterior, o atraso é significativo, passando de 80% de área plantada para apenas 55%. Dobashi destaca que, apesar desse atraso, ainda há potencial para boas safras, mas os produtores precisarão monitorar de perto as condições climáticas e ajustar estratégias para minimizar impactos negativos.
O boletim Casa Rural, elaborado pela Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), destaca a importância de ajustes nas estratégias para enfrentar o atraso no plantio. Historicamente, o plantio encerra-se na primeira semana de dezembro, e os produtores devem ficar atentos às condições climáticas para minimizar prejuízos.
A produtividade estimada é de 54 sacas por hectare, gerando uma expectativa de produção de 13,818 milhões de toneladas. No entanto, essa projeção é 8% inferior à safra passada, que registrou um recorde de 15 milhões de toneladas de soja.
O estado enfrenta uma nova onda de calor, com previsão de temperaturas acima de 40°C em muitos municípios nos próximos dias. O fenômeno El Niño é apontado como responsável por essas mudanças climáticas. O agrometeorologista Éder Comunello, da Embrapa Agropecuária Oeste, destaca que o El Niño pode impactar negativamente a agricultura, causando atraso nas chuvas e ondas de calor, prejudicando a produção agrícola.
Em meio a esses desafios climáticos, a produção de soja em Mato Grosso do Sul busca estratégias para minimizar os impactos e garantir uma safra satisfatória. O histórico do El Niño na região, com destaque para os anos 2015/2016, reforça a importância de adaptação e manejo adequado por parte dos agricultores para enfrentar adversidades climáticas e garantir a segurança alimentar.
Os preços da soja também são afetados, com uma queda de mais de 27% em um ano, aproximando-se dos valores praticados em 2020. A saca de 60 kg, que era vendida por R$ 172,66 em novembro de 2022, agora é negociada por R$ 124,82, refletindo a volatilidade do mercado diante desses desafios.
Brasil - A produção total de grãos no Brasil na safra 2023/2024 é projetada para atingir 316,7 milhões de toneladas, representando uma diminuição de 1,5% ou 4,7 milhões de toneladas em relação à colheita anterior de 2022/2023. Segundo o 2º Levantamento da Safra de Grãos, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) nesta quinta-feira (9), o progresso da semeadura no início de novembro direciona a atenção para o desenvolvimento das lavouras. O percentual da área já plantada encontra-se abaixo do registrado no mesmo período da safra anterior, principalmente devido ao excesso de chuvas nas Regiões Sul e Sudeste, contrastando com as baixas precipitações no Centro-Oeste.
A preocupação com a produtividade, aliada aos custos e preços desfavoráveis, coloca os produtores diante de um desafio complexo nesta safra, destacando a vulnerabilidade do setor agrícola frente às condições climáticas extremas. As autoridades e entidades ligadas ao agronegócio monitoram atentamente a situação, cientes dos impactos que esses eventos podem ter na economia regional e nacional.