No cenário do mercado de carne bovina, os números recentes mostram uma complexa equação afetando tanto produtores quanto consumidores. Em agosto de 2022, o setor registrou uma receita de impressionantes US$ 1,359 bilhão, impulsionada pela comercialização de 230.144 toneladas de carne bovina in natura e processada. Entretanto, em agosto de 2023, a receita despencou para US$ 962,2 milhões, apesar de ainda ter mantido um volume considerável, com 229.774 toneladas vendidas.
A análise dos indicadores revela um panorama desafiador. Segundo cálculos baseados no INDICADOR DO BOI GORDO CEPEA/B3 em São Paulo, o indicador Cepea fechou a última sexta-feira em US$ 40,66/@. No entanto, quando consideramos o valor para o boi brasileiro no mercado internacional, conforme divulgado pela Scot Consultoria, a situação é ainda mais crítica, com o animal cotado a US$ 38,51/@.
Este cenário de preços em queda afeta tanto a indústria quanto o consumidor final. Apesar da carne ainda ser cara para grande parte da população, o produtor enfrenta margens cada vez mais apertadas. A situação torna-se ainda mais preocupante ao se considerar que a arroba do boi brasileiro é a mais barata do mundo, criando uma disparidade entre os diversos mercados globais.
Nos últimos trinta dias, a cotação da arroba destinada ao mercado interno, em São Paulo, registrou uma queda de 17%, atingindo o preço de R$ 195/@, no bruto e a prazo, como informa Nicole Santos, analista da Scot Consultoria. Em termos nominais, essa é a média mensal de agosto mais baixa desde julho de 2020, e em termos reais (deflacionados pelo IGP-DI), a pior média mensal desde julho de 2017.
Comparando os valores da arroba do boi gordo com outros países concorrentes, a situação se torna ainda mais evidente. No Brasil, a arroba é cotada a US$ 38,50/@, enquanto na Austrália, país também conhecido pela produção de carne bovina, o valor é de US$ 45,15/@. Países como Uruguai e Argentina apresentam preços ainda mais elevados, com US$ 48,00/@ e US$ 72,45/@, respectivamente. A disparidade é notável em relação aos Estados Unidos, onde a arroba é negociada a US$ 96,30/@, quase o dobro do preço brasileiro.
A queda nas exportações para a China, o maior importador da carne bovina brasileira, também tem impactado o setor. Em 2022, até agosto, a China comprou 786.543 toneladas, gerando uma receita de US$ 5,317 bilhões. No entanto, em 2023, até agosto, as aquisições caíram para 727.565 toneladas, com receita de US$ 3,571 bilhões. Essa redução levou a uma diminuição significativa da participação chinesa no total das receitas com exportações brasileiras, caindo de 60,3% em 2022 para 52,7% em 2023.
Um dos principais fatores dessa queda acentuada nas receitas é a diminuição dos preços médios das vendas para a China. A comparação entre agosto de 2023 e o mesmo mês do ano anterior revela uma redução de 31,6%, com os preços médios passando de US$ 6.485 por tonelada para US$ 4.435/ton.